domingo, 24 de junho de 2012

Fala alguma coisa




Antes de arrumar meu emprego atual eu participei de inúmeros processos seletivos, na verdade, eu participei de montes de processos seletivos, diga uma empresa grande e provavelmente eu fiz dinâmica lá, ou entrevista e fracassei, a lista é longa, acho que fiz umas 35 entrevistas...mais do que muita gente faz a vida toda, talvez isso seja até uma espécie de recorde brasileiro. 

Ao menos me tornei um exemplo de persistência/motivação pra todos que eu conheço “hej, ele fez 7987090 entrevistas até conseguir arrumar emprego, vc fez 5, então relaxa que uma hora você consegue!”.


A fase na qual eu geralmente flopava era a da dinâmica de grupo, aliás mesmo depois de quase um ano e meio sem fazer dinâmica, essa palavra ainda me provoca uma mistura de medo e raiva, espero não ter de fazer uma novamente por um bom tempo, mas se tiver preferia encarar uma sessão de tortura chinesa, ou ouvir Michel Teló ou escolha seu método de sofrimento favorito.


Esses dias foi lançado um livro chamado “O poder dos Quietos”, de uma mulher chamada Susan McCain, que se define como introspectiva e que aborda esse tema no livro; uma coisa interessante é que ela também fala sobre timidez e traça um paralelo entre os dois, que até então nunca havia parado pra pensar, basicamente o tímido tem medo do julgamento alheio, já o introspectivo simplesmente prefere ficar na dele e não liga pro que os outros pensam.      


Eu me incluo nos dois grupos e tava pensando que um dos meus medos em relação á dinâmicas de grupo é que os avaliadores nunca conseguem lidar direito com introspecção e timidez, eles nunca conseguem passar através disso e analisar as reais qualidades e competências das pessoas.


Há inúmeras variáveis em um processo seletivo, incluindo ai a o cargo do sujeito que pode demandar maior ou menos traquejo social e cada caso é um caso, mas acho que de modo geral os avaliadores tendem a associar a timidez e a introspecção a coisas negativas e não enxergam o potencial do sujeito.


E nessa eu tô culpando especificamente os psicólogos até porque eu acho que eles deveriam entender melhor os diferentes padrões mentais e personalidade de uma pessoa. Conversando com um colega da faculdade, ele disse que um candidato extrovertido e hã...aberto é uma escolha mais segura, pois você (aparentemente) já sabe o que esperar do sujeito, fora que geralmente o Rh trabalha com prazos apertados.


É um ponto válido, mas são perdidos inúmeros bons candidatos com essas formas de avaliação e bem, não é pouca gente que se define, como introspectiva, tímida ou anti-social, aliás dependendo da pessoa esse termo tem uma baita carga negativa, mas como eu me defino como anti-social, sei que isso não significa que eu não vou falar com ninguém e não irei trabalhar em equipe, significa que eu não sou muito fã de sorrir sem motivo e que não irei contar minha vida pra você, sendo que te conheci ontem. 


A questão é aqueles que não são assim se tocarem disso e haver alguma mudança nos processos seletivos e na mentalidade das pessoas, afinal é irritante só por ser mais calado considerarem que tem algo errado com você.


Ainda tem o fato de que vivemos em um país que inclusive vende a imagem de ter um povo simpático, falante e caloroso, em resumo extrovertido, então isso ajuda a entender a falta de tato pra lidar com introspecção e porque acham que só por você ser mais na sua ou preferir ler um livro a socializar com todo o galere, tem algum problema e “OH MEU DEUS!!!111!VC DEVE SER PSICOPATA”.


Meu apoio á todos aqueles que já ouviram um “mas nossa, como vc é quieto, não fala nada, fala alguma coisa ai!”.

Nenhum comentário: